CASA DA MEMÓRIA 
Núcleo da Memória Audiovisual da Paisagem Humana de Paranapiacaba
2007
 
Curadoria Lilian Amaral
Museu Aberto

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Figura 1  – Casa FOX / Casa da Memória – Vila de Paranapiacaba 2007
Foto: Lilian Amaral, 2007.

Apresentação

Proposta de investigar e operar as memórias individuais e coletivas dos moradores da Vila de Paranapiacaba, articulando-as numa perspectiva documental audiovisual sistemática com bases tecnológicas. Casa da Memória constitui-se a partir de um Projeto Processual Colaborativo, do qual participam especialistas brasileiros e estrangeiros em diversas áreas do conhecimento – artes audiovisuais, arquitetura, urbanismo, preservação e reabilitação do patrimônio, história oral, antropologia e arte/educação. Define-se como Núcleo da Memória Audiovisual da Paisagem Humana em sua interface direta com o território, configurando-se como espaço experimental, intermidiático e interdisciplinar contemporâneo, expositivo, educativo e local de encontro para  mostras, cursos, palestras, oficinas, apresentações, audições, projeções, assim como de um Centro de Documentação e Referência da Paisagem Humana da Vila de Paranapiacaba.

Configura-se no âmbito da experimentação de práticas artísticas contemporâneas que investigam os imaginários urbanos a partir das fronteiras e potências entre linguagens, meios e contextos, com base em processos colaborativos com perspectivas de apropriação, pertencimento e ressignificação do patrimônio material e imaterial. Envolve a comunidade de moradores no processo de desenvolvimento do projeto colaborativo, tendo os Monitores Ambientais e Culturais de Paranapiacaba como Agentes da Memória e Mediadores por excelência, estabelecendo articulações entre arte e vida, individual e coletivo, imaginários urbanos e suas representações, o local e o global.

Num momento em que o fluxo, deslocamento, transitoriedade e velocidade   caracterizam a dinâmica de trocas – informações, conhecimento, comunicação contemporânea, e em um contexto em que o Brasil se vê pressionado a  repensar sua infraestrutura no âmbito dos transportes, tendo como agravante os recentes desdobramentos resultantes do colapso aéreo especialmente vivido na cidade de São Paulo em Julho de 2007, parece-nos extremamente oportuno colocar em pauta discussões que apontem perspectivas de revitalização do transporte ferroviário que há tanto tempo tem sido relegado à obsolescência e ao esquecimento, apontando possibilidades de reinvenção real e simbólicas de preservação do patrimônio, promovendo a mobilização crítica e a transformação social por meio de diálogos mediados pela  arte e criatividade.

Incorporado como procedimento metodológico da investigação de doutorado “Museu Aberto: A Cidade como Museu e o Museu como Prática Artística”, de Lilian Amaral, o projeto Casa da Memória – Núcleo da Memória Audiovisual da Paisagem Humana de Paranapiacaba, integra do Projeto “Museu a Céu Aberto” aprovado pelo IPHAN/Ministério da Cultura, 2007. Concebido como espaço interdisciplinar para análise das interlocuções e mediações que se dão hoje entre áreas do documentário, seus correlatos e as artes visuais, no primeiro módulo, realizado entre Agosto e Dezembro de 2006, na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, elaboramos a Videoinstalação MultipliCity – DVD, como estratégia para delinear os contornos do Museu de Experiências Pessoais, um dos territórios para os quais a investigação aponta, utilizando o vídeo como recurso documental de ações artísticas e de narrativas coletivas.

Agora, no segundo módulo do projeto que se estende ao longo do ano de 2007 com o desenvolvimento de workshops e pesquisas das quais participam especialistas brasileiros e estrangeiros, o projeto Casa da Memória – Núcleo da Memória Audiovisual da Paisagem Humana de Paranapiacaba será inaugurado concomitantemente com a realização, em Novembro, do 24h: una linea en la ciudad, projeto com base em Barcelona, que desde 2003 propõe intervenções  efêmeras no espaço público, criando uma rede de ações artísticas que ocorrem simultaneamente em cidades européias e latino americanas . A realização articulada de lançamento da Casa da Memória com o projeto 24h: una linea en la ciudad promove reflexões e ações acerca dos imaginários urbanos da Vila de Paranapiacaba em diálogo com outros contextos culturais nacionais e internacionais, estimulando produções audiovisuais que serão incorporadas ao acervo em construção da Casa da Memória. O foco atual da pesquisa em processo é o estatuto contemporâneo do Museu como lugar para a prática artístico-crítica, tendo nas memórias individuais e coletivas e na arte colaborativa sua estrutura e corpo poético. 
 
Lilian Amaral, Agosto, 2007.
 
Artista Visual, docente e pesquisadora, especialista e mestre na área de Arte Pública. Doutoranda em Artes pela ECA/USP. Curadora do Núcleo da Memória Audiovisual da Paisagem Humana de Paranapiacaba – Casa da Memória / Museu a Céu Aberto, Instituto do Patrimônio Histórico Nacional/Minc, Prefeitura de Santo André. Pesquisadora FAPESG. Membro do Comitê de Ensino-aprendizagem da Arte – Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas/ ANPAP. Representante Brasileira do POCS – Project for Open and Closed Space Sculpture Association – Barcelona. 

Casa da Memória – Processo Colaborativo, artistas e não-artistas.
Paranapiacaba, São Paulo, Agosto, 2007.

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Série de Workshops e experiências compartilhadas com a comunidade de Paranapiacaba – artistas, não-artistas, monitores culturais e ambientais. Processo de formação, mediação e construção coletiva do Projeto da Casa da Memória – Núcleo da Memória Audiovisual da Paisagem Humana de Paranapiacaba.

Museu a Céu Aberto
 
Proposta inovadora de criação de um espaço expositivo e interativo a céu aberto, tendo como plataforma,  a paisagem cultural da Vila de Paranapiacaba.
A proposta de um museu a céu aberto na Vila de Paranapiacaba foi formulada norteando-se pelo projeto de sinalização turística de rua do referido sítio histórico, instalado em 2004, a partir de estudos e observações dos principais eixos de circulação, seus cruzamentos e dos principais pontos de interesse histórico.  Dessa forma, com o intuito de criar espaços integrados à realidade local, com intensa interdisciplinaridade, e sendo geridos com grande participação social local foi concebida a proposta do museu a céu aberto, incrementando ao museu de rua, um circuito temático composto por cinco equipamentos públicos que abordam temas vinculados ao patrimônio: histórico, natural, arquitetônico / urbanístico, humano e sócio-cultural:  Museu Castelo, Centro de Visitantes do Parque, Centro de Referência em Arquitetura e Urbanismo, Clube União Lyra Serrano, e por último, para fechar o circuito, a Casa da Memória.

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Aspectos da paisagem natural e construída da Vila de Paranapiacaba.

19 Respostas to “o projeto”


  1. 1 Regina Azevedo Miguel 21 agosto, 2007 às 2:37 pm

    Caros amigos envolvidos neste Projeto da Casa da Memória em Paranapiacaba.
    É com imensa satisfação e orgulho que estou no grupo de discussão sobre a implantação deste projeto. Algo como uma “compensação“ historicamente dada pela minha luta e persistência desde que vim morar no vilarejo histórico em 1999. Desde o início, coloquei-me, juntamente com mais um grupo de pessoas, como artista( de atelier aberto para turistas e tudo…) para refletir e sobreviver com qualidade às mudanças que se faziam presentes na história do lugar, entrando em liquidação a Rede Ferroviária, a “compra“ da cidade pela Prefeitura de Santo André, os apoios básicos iniciais para a gestão pública….quando não raro equivocada e “contra`nossa memória coletiva cultural e de costumes…,.bem…histórias e estórias.
    Imensa possibilidade de construção coletiva, de preservação, mais que da memória, mas de umas gentes e seus modos de fazer e suas interpretações da realidade….para as novas gerações, aos nossos filhos e donos deste patrimonio e desta natureza que nos resta.
    Abraço0s e felicidades a todos!!!!
    Atelier Cia. da terra.

  2. 2 Albina Cusmanich Ayala 21 agosto, 2007 às 10:18 pm

    Lilian, Tati e Fabíola,

    Como falei com a Lilian, hoje no nosso prazeroso encontro de 3as.feiras, o edital do IPHAN que foi lançado em 15 de agosto tem tudo há ver conosco. Eu vejo que nos encaixamos melhor na categoria “Acontecimentos/inter-relações” – que é definida como exposições ou eventos que traduzam em termos da produção contemporânea valores e relações como patrimônio cultural. O valor do financiamento é de R$100.000,00 por projeto. O período de inscrição é até 28 de setembro 2007. vejam link: http://forumpermanente.incubadora.fapesp.br/portal/.rede/arte-e-patrimonio/edital

    Outra informação importante do edital é que ele será lançado em São Paulo com Mesa redonda com a participação de Magaly Espinosa Delgado, Martin Grossmann e Afonso Luz no Centro Cultural São Paulo – Sala Paulo Emílio Salles Gomes (Rua Vergueiro, 1000), no sábado 25/08/2007 de 10:30 às 13:00h.

    Super beijos e acho que temos tudo para conquistar este recurso. Contem comigo!

    Albina
    http://www.guiaparanapiacaba.com.br

  3. 3 Albina Cusmanich Ayala 29 agosto, 2007 às 12:59 am

    Lilian, Tati e Fabíola,

    Queridas companheiras de jornada… conforme disse hoje para todos… Tarsila em Paranapiacaba é uma descoberta deliciosa!

    Tarsila do Amaral em Paranapiacaba
    (Albina Cusmanich Ayala)
    Quando me mudei para Paranapiacaba fiquei muito interessada na sua história. Mais do que aquela contada nos livros, me interessava por pequenas coisas que vamos descobrindo conversando com pessoas, revisitando suas memórias e até imaginando, tentando juntar fragmentos inusitados. Uma querida amiga de São Paulo me enviou uma mensagem com fotos de quadros e poesias de nossos grandes pintores e poetas brasileiros, uma seqüência linda para os olhos e de êxtase para o coração. De repente, vi um quadro de Tarsila, me pareceu tão familiar a imagem… que pensei “poderia até ter sido pintado aqui em Paranapiacaba”. O fato é que aquela imagem ficou guardada no fundo da minha memória. Uns meses depois, outra amiga sabendo que adoro artes plásticas e Tarsila em especial, me deu de presente uma fotocópia de um esboço que estava na contracapa de sua agenda pessoal, onde consta a sua assinatura e no canto inferior direito “Alto da Serra”. Quando vi o esboço, a imagem do quadro pulou do arquivo mental. Mais um fragmento que se encaixava naquele sentimento de familiaridade com a imagem. Ora, Paranapiacaba se denominava Alto da Serra, e a estação de trem permaneceu como Alto da Serra até 1945, quando foi alterado para Paranapiacaba. Para ver a história da estação: http://www.estacoesferroviarias.com.br/p/paranapiacaba.htm . Na década de 20, para ir a Santos que era o Porto de saída para a Europa, era necessário parar por um bom tempo na Estação Alto da Serra a espera da transferência para a unidade que fazia a descida. E o ângulo que se via da estação era a parte alta de Paranapiacaba. Para tirar minhas dúvidas olhei várias fotos tiradas da parte alta mais ou menos do ângulo da antiga estação. E vendo todas as imagens, restam poucas dúvidas… Tarsila fez seu quadro EFCB baseado neste esboço de Alto da Serra. Assim, compartilho com todos meus fragmentos e conclusões. Olhei no site oficial de Tarsila http://www.tarsiladoamaral.com.br onde consta que este quadro foi realizado por ela quando voltou de uma viagem para Minas Gerais e nada mais. O quadro EFCB – Estrada de Ferro Central do Brasil é da fase pau-brasil, data de 1924, óleo/tela 142 x 127cm, da Coleção do MAC da USP, veja em http://www.tarsiladoamaral.com.br/obras4.htm .
    Para ver esboço e foto ver http://www.guiaparanapiacaba.com.br

  4. 4 Regina Azevedo Miguel 29 agosto, 2007 às 2:14 am

    Ola Tati, foi um imenso prazer participar desses encontros, no qual vc
    com dinamismo e talento nos proporcionou ferramentas,para a compreenção e execução de uma grande etapa do processo desse desafiante Projeto.

  5. 5 Albina Cusmanich Ayala 30 agosto, 2007 às 4:09 am

    Tati,
    Como a Regina já colocou… obrigado pelo trabalho que fez neste período conosco. As informações, ferramentas, idéias e intuições que você nos passou estão sendo processadas num novo olhar para o nosso cotidiano. Espero que venha sempre…
    Beijos
    Albina

  6. 6 Felipe Sabbag 4 setembro, 2007 às 4:51 am

    Temos um trabalho junto ao núcleo de cerâmica de Paranapiacaba que é a reconstrução do forno de barro havia caido por causa da alta temperatura do fogo que derreteu as barras de ferro que sustentavam a base do forno.

    Após a recosntrução do forno, dessa vez com arcos também feitos de tijolos de barro e não mais de ferro e com a indispensável genialidade, simplicidade e sorriso da minha amiga Dona Anésia tivemos muitos momentos bons no núcleo de cerâmica como o festival de inverno que hoje já é bem conhecido mas espero muito que com essa nova Casa da Memória na vila de Paranapiacaba, que considero uma cidade um povo uma origem pois as pessoas não se identificam com pessoas da cidade, lá é muito calmo e um ar de paz reina todo segundo pelo céu de Paranapiacaba, então espero que a memória seja mais explorada e menos consumista ou capitalista e a casa da memória consiga devolver a idéia de que quem sair da vila ou quem for retirado da vila está levando ou está sendo retirada um pedaço de nossa história e da história de uma das vilas mais famosas do Brasil…

    Vídeo da reconstrução do forno de cerâmica de Paranapiacaba:

    A Terça Feira passou a ser o dia mais esperado da minha semana, mais do que sexta e mais do que sabado… desde quando comecei a trabalhar nesse vídeo

  7. 7 Albina Cusmanich Ayala 12 setembro, 2007 às 4:23 pm

    Lilian,

    Este projeto está verdadeiramente me deixando impregnada com a idéia das memórias. Assim, escrevi para o nosso encontro de ontem uma crônica que contém uma visão que tenho de Paranapiacaba destes dois anos e meio que me mudei para cá. Influenciada em parte, por aquilo que falamos em um dos nossos workshops sobre a memória do passado, do presente e do futuro. O texto está também localizado no http://www.guiaparanapiacaba.com.br na seção “News” e nos próximos dias estarei colocando imagens que estou selecionando e tratando. Por enquanto, a crônica:

    Paranapiacaba é a sua gente!

    Quando falamos em Paranapiacaba de que nos lembramos, a que nos remete? Uns pensam nas trilhas por onde andaram, os acampamentos que fizeram lá pelos idos anos 80, para outros estamos falando da Serra de mesmo nome, que até o Barão de Paranapiacaba, Dr. João Cardoso de Menezes e Souza a perenizou em verso (veja poesia completa em: http://www.jornaldepoesia.jor.br/jcm01.html ):

    “Dorme; repousa em teu sono,
    Da força pujante emblema,
    Que tens o oceano por trono
    E as nuvens por diadema!
    Imóvel, muda, imponente,
    Entestas com a excelsa frente
    Das águias o azul império;
    E em vastíssimo cenário
    Da tormenta o quadro vário
    Contemplas do espaço etéreo…”

    Ou na descrição da ascenção de Cubatão por Simão de Vasconcelos: …”sempre vai subindo, e tornando a mesma aspereza, ainda que de nome diversa, chamada em uma das paragens Praná Piacá Miri, e logo em outra Cabaru Paramgaba; e tudo é a mesma serrania.” (ver em: http://www.novomilenio.inf.br/santos/h0300d.htm). Mais tarde daí surgindo o nome simplificado de Paranapiacaba, significando de onde se vê o mar.

    A nostalgia para alguns tem som de trem, locomotiva, vagões, subir e descer a serra… Locobreque, brequinho, patamares, funicular, Maria Fumaça, a vila de casas dos operários da linha inglesa… “Eu cheguei a conhecer a Paranapiacaba com roseiras nos jardins. Eu aguardava o ano inteiro para que as férias chegassem, pois sabia que mamãe nos levaria de trem para Santos. Pararíamos em Paranapiacaba para esperar as manobras dos trens. Eles, em muitos casos, eram divididos em comboios menores para poder descer, a cabo ou na cremalheira. Tudo isso, manobras, desmonte, descida da serra e recomposição dos trens lá embaixo em Raiz da Serra ou em Piassagüera, levava 50 minutos. Em Paranapiacaba, então, eu me lembro com saudades do sanduíche de mortadela. Não tinha igual. (Nilce Balieiro, 13/11/2006 in: http://www.estacoesferroviarias.com.br/p/paranapiacaba.htm). Outras lembranças foram perenizadas como o quadro de Tarsila do Amaral – Estrada de Ferro Central do Brasil de 1924. Ver quadro, esboço e foto atual do local de inspiração: http://www.guiaparanapiacaba.com.br/?pg=noticia&id=540 .

    Hoje, tem gente que já está se lembrando de outras coisas, dos eventos na vila, do peixe na telha do Tio César, do salmão com molho de maracujá do Doel, dos maravilhosos crepes sonhados do Palhaço, da comidinha escondida da neblina no Neblina, da coxinha do Careca, da festa de aniversário com quase cem crianças com os cuidados especiais da Dani e do Fernando no Apiaca, da comida ao som do relógio londrino Big Bem, da comidinha regional da Érica no Cantinho da Terra com aquele cordeiro dos deuses, dos pratos belíssimos que começam a encher pelos olhos do restaurante da Benilde – no comando da Estação do Sabor, das doces delícias da Cida e aquele cantinho gastronômico de perdições adocicadas, tem os pães de mel imperdíveis da Vera e a Casa de Chá Raízes da Terra e os doces portugueses da Santa Rita de Cássia, das pequenas pousadas de coração grande (B & B), do artista que também tem pousada e café, do tao em pousada de tom milenar com cuidados especiais da Dona Toninha, da novíssima pousada Paluan com o atendimento gostoso da Márcia e do Fernando, do pouso na Shamballah do Silvio, do carinho da Dona Maria no Estrela da Manhã, da Taberna da Bruxa com Blues, Rock & mil alquimias, de gente que flertou por aqui e hoje já está comemorando aniversário de namoro, do ponto de encontro de muitos no Bar da Zilda ou a parada para uma cervejinha no Ferreira, dos lanches deliciosos daquela família mineira que se apaixonou pelo Castelinho, da Confraria do Cambuci, do pastel do japonês, da empada de cambuci da Dona Conceição, do bigodão do portuga que comanda a Flor da Benedetti, do charme de um cafezinho no Bar do Lyra e a conversa leve com a Sandrinha e o Seu Pedro. A Dona Vera não fica para trás com sua comida farta naquele restaurante de nome diferente – o Maktub, dos beija-flores que dançam alegremente no restaurante que os homenageia “Cantinho do Beija-flor”, do fogão à lenha de garagem do Seu Diniz com comida de lamber os beiços (não dá para fazer dieta por aqui!), daquele café-da-manhã farto com boa conversa dos anfitriões Zélia e Pedro que amam morar aqui com ar memorialista ou daquela conversa gostosa tomando chá de amendoim em noites de muito frio com jeito e graça de Santa Catarina, com a Carmem!

    A sua lembrança talvez seja as delícias para os olhos nos ateliês-residência, os cantinhos de arte & artesanato ou no entreposto cultural, que vão de tapeçarias maravilhosas, cerâmicas pintadas, colares, brincos, bordados, crochês, gorros, chapéus, roupas singulares, cartões, artigos decorativos, entalhes em madeira, referências da negritude, mandalas sociológicas, marchetarias, brinquedos de madeira, instrumentos inusitados, arte de linguagem contemporânea de materiais reciclados, as flores encantadas saídas das histórias da branca de neve e os sete anões, as cerâmicas do Núcleo Comunitário de Cerâmica, as panelas de barro e as histórias da Dona Anésia. Você acreditaria que aqui tem até sons da árvore? Literalmente para gregos & troianos. Você, também, deve se lembrar dos hippies com seus panos e quadros no Largo dos Padeiros, que com orgulho apresentam brincos, colares e anéis feitos pelas próprias mãos e não os da “vinte e cinco”. Todos estes artistas e artesões (os dos ateliês e os “hippies”) Tony, Regina, Anita, Rosana, Ana Rosa, Chistou, Lisa, Valter, Lalas, kiko, Caran, Macaxeira, Dona Francisquinha, Félix, Mirna, Ed, Simone, Zé Carlos, Geguerê, Telma, Cérebro, Roberta, Michele, Wagner e Ivo… sonhadores que se manifestam pela arte das suas mãos. Mais do que os artefatos que produzem, conversar com eles é um universo à parte.

    Dos palcos, da movimentação de muita gente nos finais de semana de julho… do passeio de Maria Fumaça, da história contada com os fragmentos ferroviários do Museu Funicular, da Feira de Oratórios e Presépios, dos bailes no Lyra – do Cubano em novembro e do bailes de formatura da Franco Lacerda, do desfile das bruacas no Carnaval, da abertura do forno de cerâmica com aleluias e rodas de cultura, são lembranças de muitos. Olhar cultural que vai aos poucos se amalgamando, isto não é de muitos… Pude apreender e aprender em um encontro mágico com alguém super especial, que como camaleoa vai de liderança, arte-educadora, fotógrafa, produtora cultural, amiga, mãe, lutadora por este lugar encantado, minha amiga e irmã de coração Wal.

    Tem gente que só lembra das chuvas da primavera, da neblina com hora marcada (mas, não se assuste se surpreendido, o nativo Ironildo propicia guarda-chuvas e capas). Quem sabe se lembre da revoada de andorinhas, pássaros em profusão em época de nidação, veados surpreendentes atravessando a estradinha, e furões, e galinhas do mato, e tatus, e carcarás, e gaviões, e jacus, e tucanos todos avistados passando por aqui. Do City-tour contando cortes e recortes de histórias deste lugar que passa pela história do Brasil e se abre para o mundo. Monitores ambientais e histórico-culturais e pessoal experimentado em arborismo, rapel e outras aventuras, educando gente que aposta no conhecimento destes fragmentos para potencializar sua vivência e sua qualidade de vida, dando um verdadeiro sentido em ser cidadão deste planeta, visualizando estas preciosidades há apenas alguns quilômetros de casa.

    No cotidiano da vila, minha lembrança colhe diariamente a movimentação dos pequeninos no meio do dia subindo e descendo o morro entrando e saindo da escolinha e a garotada mais crescida passando alegremente indo para a escola estadual. Também neste dia-a-dia de relativo silêncio e sons audíveis um-a-um os pães do café da manhã e da tarde comprados na Dona Bilau e na Zilda, as guloseimas das crianças de todos os tamanhos com a Dona Nadir e no Bar do Albério, das urgências no Mercadinho do Careca, das frutas, legumes e verduras no caminhão aos sábados, dos tomatinhos e cheiro-verde sem agrotóxico na charrete da Senhorinha que vem lá dos lados de Taiaçupeba, às sextas-feiras.

    Aqui temos iniciativas ímpares como o trabalho prazeroso com mulheres toda segunda-feira que vai de massagens com óleos perfumados, autoconhecimento e muita risada coordenado pela Marilza e eu (sem falsa modéstia) veja em: http://www.guiaparanapiacaba.com.br/?pg=noticia&id=481 , tem espanhol com a Gracie nas terças-feiras, pesquisa e documentário sobre o filme dos filmes de Paranapiacaba com a Regina e os jovens daqui, o projeto do Marcos, da Bruna e do Pedro de formarem uma biblioteca alternativa onde cada um possa pegar emprestado livros sem burocracia e quem sabe a formação de um grupo de jovens amantes de Filosofia (estímulo deixado por uma professora que esteve por aqui), a retomada da Jornada Criativa, as moças e rapazes todos de branco da Uniá pesquisando nutrição, saúde e meio ambiente, a organização de um espaço zen de iniciativa do Eduardo Navarro que também é professor de Tupi, as aulas maravilhosas de yoga da Méia, o projeto do Galpão das Oficinas da Iva, o embelezamento diário realizado pela Neuza e a Patrícia, as inúmeras iniciativas educativas e de arte já realizadas pela Cris e o Júlio, 28 mulheres que ensinam uma a outra seus saberes de bordados, fuxico, crochê, pequenos teares e mil tricotagens lideradas pela Carminha, as aulas de pintura do pequeno Bernardo ministradas pelo Tony Gonzagto, a mobilização iniciada pela professora Zilda e o professor Raul para ações de transformação da escola, o olhar atento pela sua objetiva dos fotógrafos Adauto e Marco Antonio Gonçalves, do Guia Paranapiacaba que o meu companheiro Pedro luta dia após dia para divulgar nossa tão querida vila: http://www.guiaparanapiacaba.com.br. Neste momento também vivemos o processo borbulhante de construção participativa da Casa da Memória, que, mais do que workshops, constrói semana a semana a cumplicidade afetuosa que irá garantir o registro da memória humana de Paranapiacaba fiando uma parte do nosso Museu a Céu Aberto. Veja em: http://www.guiaparanapiacaba.com.br/?pg=agenda , http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=21362190&tid=2549636498375303009&start=1 e respectivo Blog: https://casadamemoria.wordpress.com . Esta orgânica comunidade que todos se visualizam, todos formam um tecido multicolorido que se torna luminoso com a presença e a troca de energia dos visitantes que vem aqui conviver, nem que seja por algumas horas do sentido da vida de cada um que habita este espaço público, histórico, natural, construído e engendrado por gente de carne e osso e verdade!

    Cada ser que mora aqui ou que tenha vindo a Paranapiacaba em algum momento tem sempre uma lembrança ímpar. Em dia claro de muito sol, tomando banho na Pontinha ou no Poço Formoso, quem sabe na Cachoeira Escondida ou da Fumaça, ou de passeios mais “hard” descendo a trilha de Raiz da Serra ou simplesmente um menino com seu cachorro correndo sem medo pela estradinha do Taquarussu. Se dia chuvoso, com neblina, com os pés ensopados e a alma extasiada de tanta natureza. Quem sabe só olhando as casas vermelho goia e se perguntando que idéia era essa de casas de cor de vagão… Tem visitantes que estão somente aos domingos e certamente se lembrarão do Seu Antonio e seu tratamento especial com os amantes do futebol, cerveja e um bom churrasco. Também, por aqui uma vez por ano o encontro tão esperado de antigos moradores, alguns na casa dos 80 e 90 que rememoram mais que lembranças, os prazeres que tiveram por toda uma vida. Aos domingos também outras tribos costumam estar por Paranapiacaba: são os motoqueiros, os jipeiros… Tem também, os coreanos xintoístas com suas bengalas, luvas, mochilas e seu encontro com a natureza. E vez por outra cavalos e cavaleiros passeando pela vila dando uma sensação de volta no tempo ao som dos cascos no paralelepípedo.

    Há gente que não tem nada a ver com a veia ferroviária de um pai ou tio ou avô que tenha trabalhado aqui na ferrovia, mas é amante deste clima seja pela montanha, seja pela vila de berço inglês, seja por fugir da conturbada cidade grande, mas, pé no chão e horas marcadas pelo relógio da Estação, que optou morar aqui pensando re-civitas, arca, cultura, TV por Internet, agência de propaganda e marketing, jornalismo, política com P maiúsculo, escrever, gente em procissões visitando possíveis moradias, famílias adotando o lugar, verdadeiros clãs se organizando nas casas operárias de arquitetura inglesa ou apenas propiciar a meu filho pequenino uma memória de futuro.

    Albina Cusmanich Ayala – Paranapiacaba, 11/setembro/2007

    Super beijo a todos…

  8. 8 Doel Sauerbronn 21 setembro, 2007 às 5:13 pm

    Divagações sobre “A Leitura Fora do Livro” da Professora Lúcia Santael

    Lendo com cuidado o texto que passeou agradavèlmente sob meus olhos percebi ou acreditei que sim, que nós somos uma mescla homogênea e em proporções variadas e variáveis dos tipos de leitores descritos.
    Esta mescla se faz de uma maneira que para muitos de nós é quase imperceptível e para outros passa a ser de pouca importância.
    Eu fui durante a juventude uma mistura pacífica dos dois primeiros tipos, sorvia meus livros, meus periódicos, estudava para as provas, ia para a escola muitas vezes a pé outras vezes de ônibus, sorria para os poucos “anúncios ou reclames”, e via a cidade través de uma lenta e pouco barulhenta janela de um ônibus.
    O terceiro tipo leitor apareceu em mim junto com o moderníssimo “videotexto”, eram aquelas letrinhas verdes fluorescentes que caminhavam lentamente sobre um fundo preto de um computador dinossáurico e que apareciam quando nós o ligávamos por um modem enorme, a BIREME (Biblioteca Regional de Medicina).
    Aí surgiu a Internet e os três leitores viram-se lado a lado disputando ferrenhamente o próprio espaço. Hoje os três tipos se engalfinham numa briga diária e constante por provar cada um a sua importância.
    Um insiste em procurar no velho sebo que mantenho em minhas estantes, os livros de bolso que os “ebooks” afirmam que não existem mais misturando-os aos velhos alfarrábios para escondê-los, o outro busca avidamente pela cidade os armazéns, as banquinhas de frutas, o jornaleiro da esquina, a quitanda do japonês, a padaria do português e os reclames que os backdoors, frontdoors e outdoors enterraram de vez.
    Mas o último a chegar não se importa com nada disso, com fidelidade canina busca na tela “wide-screen” os e-mails, os downloads, as notícias recentes, os chats, os blogs e atualizações, tudo o que os outros dois recusam aceitar, abominam e por vezes vaiam.

    Doel Sauerbronn

  9. 9 Felipe Carpinelli Sabbag 11 outubro, 2007 às 4:44 am

    http://felipebj.spaces.live.com/blog/cns!87EDBCF7AD6F5512!167.entry

    MOVIMENTO – Pau Da Missa
    _pra se ele morrer… _morrer feliz

    FOTOGRAFIA – VÍDEOS –
    ARTES PLÁSTICAS –
    PERFORMANCES – MÚSICA

    DIA 13/10/2007 A PARTIR DAS 13h

    Pau da Missa – Paranapiacaba

    Vão cortar o Pau da Missa????

    Notícia –
    Nem tombamento da Vila salva pau-da-missa
    Rodrigo Cipriano
    Do Diário do Grande ABC

    Nem mesmo os órgãos de defesa do patrimônio histórico e cultural devem salvar o pau-da-missa.
    O eucalipto centenário, utilizado como mural de avisos durante a passagem dos ingleses da São Paulo Railway por Paranapiacaba, corre o risco de cair e, por isso, será cortado. Um dos galhos do eucalipto cresceu desproporcionalmente em relação ao restante da copa, desequilibrando a árvore. Segundo o sub-prefeito da vila, João Ricardo Guimarães Caetano, um estudo constatou que o tronco apodreceu, o que acentua a instabilidade. “A preservação da vida vem antes da preservação do patrimônio”, alega o vice-presidente do Comdephaapasa (Conselho Municipal de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arquitetônico-Urbanístico e Paisagístico de Santo André), Alberto Alves de Souza. Primavera – O corte ocorrerá até o fim de setembro, em plena chegada da primavera. O pau-da-missa não é tombado individualmente. Sua proteção é resguardada pelo tombamento geral de Paranapiacaba pelo Condephaat, em setembro de 1987. Após a retirada do pau-da-missa, o órgão será notificado sobre a mudança na paisagem da vila.

    Alguns sites que que falam sobre a Famosa Árvore…
    Trabalhos de faculdades,
    Históricos de Viagens,
    Guias Turísticos,
    Entidades Educacionais,
    Blogs,
    Jornais……….

    http://www.paranapiacaba-spr.org.br/pontos.htm
    http://pt.wikipedia.org/wiki/Paranapiacaba

    Clique para acessar o Paranapiacaba.pdf

    Clique para acessar o NP17MELO.pdf

    http://www.santoandre.sp.gov.br/bn_conteudo.asp?cod=1447
    http://www.aomestre.com.br/tur/17.htm
    http://www2.metodista.br/unesco/jbcc/jbcc229.htm
    http://www2.metodista.br/unesco/hp_unesco_jornaldafolkcomunicacao2.htm
    http://www.58cnbot.com.br/interna.asp?item=2
    http://www.escoteiros.org/Programa/ecologia/links_ecologia.htm
    http://www.pousadashamballah.com.br/pag_historia_infor/pag_histor_inf_link_2.htm
    http://www.vitruvius.com.br/minhacidade/mc055/opiniaomc055_08.asp
    http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=H310106
    http://www.guiaparanapiacaba.com.br/?pg=noticia&id=467
    http://www.guiaparanapiacaba.com.br/?pg=resultados&cat=7&subcat=82
    http://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20070329103709AAm9grF
    http://www.ivox.com.br/produto/?dir=:55112
    http://www.abet.com.br/portal/f_associado.jsp?p=/abet_informa/189/vb.htm
    http://www.terraexpedicoes.com.br/paranapiacaba.htm
    http://www.ferias.tur.br/informacoes/9453/paranapiacaba-sp.html
    http://colcurinho.chaosobral.org/hlcdomeuchao.htm
    http://terpomo.blogspot.com/2004/10/um-conto-sobre-httpcurly.html
    http://www.jornalempresasenegocios.com.br/site/index.php?topgroupid=&groupid=13&subgroupid=8&contentid=3000http://www.flickr.com/photos/tatianasapateiro/1150277441/

    ARCA – arcarte@terra.com.br

  10. 10 Felipe Carpinelli Sabbag 26 outubro, 2007 às 4:32 am

    Fotos do dia da entrevista com a Dona Cida e a Dona Anésia.
    Primeiros arquivos para a Casa da Memória

    http://picasaweb.google.co.uk/felipetambem/CasaDaMemRia

  11. 11 daniel acosta 26 novembro, 2007 às 8:01 pm

    Me escribio el amigo daniel Toso, que participa del encuentro. les deseo que salga super todo. estamos en contacto.
    un abrazo indoamericano.
    daniel Acosta/artista multimedio/Arg.

  12. 12 Regina Azevedo Miguel 27 novembro, 2007 às 9:09 pm

    Me peguei matutando o que seria um centro de referência da paisagem humana.
    As antropologias, as histórias e os sistemas filosóficos elaborados começaram
    a me falar sobre alguns pontos, intuitivos e socialistas:
    – vivemos com um alto grau de determinação em Paranapiacaba.
    – vivemos a desterritorialização constante não sendo nossa morada propriedade privada, e vivemos o imperativo do cuidar diário.
    – sempre viveremos na condição subjetiva de pertencer a história de homens e de políticos.
    – possuímos em nosso ser a necessidade social de preservação ambiental e patrimonial e a faremos para as futuras gerações.
    – ressignificaremos o vilarejo neste século XXI com nosso suor de empreendedores e autodidatas e viveremos a boniteza da fartura.
    – a certeza que em todos os porões de todas as casas históricas abrigam fantasmas protetores dos artistas, do pinho-de-riga e da peróba rosa……mas isto é outra história…..risos
    Um beijão a todos maravilhosos companheiros do fazer junto…como diz Lilian…
    Regina.

  13. 13 Regina Azevedo Miguel 27 novembro, 2007 às 9:10 pm

    Ah!!
    Daniel Toso continua imprescindível…..
    regina

  14. 14 Cleber Zerbielli 25 fevereiro, 2008 às 2:51 pm

    Estranho fascinio me atrai a vila… Talvez a lembrança da liberdade de brincar sozinho desde os meus primeiros passos de vida na minha pequena cidade de Ilópolis, talvez a história do transporte coletivo num tempo onde o individual esbarra no coletivo e não consegue mais se movimentar ou mesmoa a presença central do pau da missa, sinônimo do gde eucalipto da praça central da minha cidade que não serviu de mural de recados mas que abrigou centenas de casais apaixonadas tal e qual o pau da missa e q até hj nos dias de natal atrai pelo colorido e abundancia de luzes nele instalado. Uma pena que ambos sejam eucaliptos e por isso devam morrer. Afinal nem tudo que inglês trouxe permaneceu, aliás nem os próprios permaneceram. E onde até igreja virou bar o que significa um eucalipto a menos bebendo 100 vezes mais água que plantas nativas. É hora de economizar pra não faltar. E pra não morrer tá ai a memória digital, virtual, impressa…
    Forte abraço,
    Cleber Zerbielli

  15. 15 Regina Azevedo Miguel 27 fevereiro, 2008 às 12:09 pm

    ,

    Tenho a sensação que esperei sete anos, o tempo que moro neste lugar de trezentas casas, para decidir escrever estas crônicas. Queria me sentir segura e com a tranquilidade nescessária para tratar de uma série de acontecimentos presentes em minha vida cotidiana na Vila de Paranapiacaba desde 1999.
    A reflexão metodológica no campo das ciências sociais e o meu senso de antropóloga investigadora formavam barreiras imaginárias e científicas a respeito da interpretação, e de minha própria aceitação, desta mesma série de acontecimentos _ os fantasmas, em especial os que “vivem“ em Paranapiacaba.
    A magnífica e exuberante Mata Atlântica que envolve o vilarejo me deu o ingrediente primordial de abertura mental para transitar neste mundo limite do esoterismo e do espiritismo e assim acalmar meus anseios e incredulidades ( intimamente ligados a racionalidade da sociologia ativa) ao propor um descortinamento da realidade das coisas e dos meus objetos escolhidos, ah…eu os via, os sentia e os ouvia.
    “A Vila de Paranapiacaba é, no Brasil, a única vila ferroviária conservada como em sua fundação e um marco da presença britânica no país. Foi construída pela São Paulo Railway Co. em 1867, (…)“.
    Sei que os seres são formados por 109 átomos e que estes átomos estão em constante movimento, gerando a vida todo o tempo, mas o que vivi na própria pele foi de arrepiar! Havia recém-chegado do Amapá e não quis mais viver em São Paulo, no cotidiano desta imensa cidade. Precisava ficar pertinho da natureza. Mudei para cá em tres viagens noturnas, no mesmo dia ( `a
    época dos fuscas clandestinos…), desmaiei de cansaço quando o dia amanhecia. Quando acordei era um dia de neblina absoluta. Eu não via nada nem ninguém. Todas as janelas de todas as casas estavam fechadas e tive a nítida primeira impressão de uma cidade de madeira abandonada.
    Senti presenças não mais físicas neste mesmo primeiro dia, os mortos e as energias me contataram de alguma maneira, fato que chamo de “ver os fantasmas“.
    Na casa construída em peróba rosa onde passei a morar havia um porão de um metro aproximadamente e faltava uma grade de ferro que o protegia. Em meio a toda aquela sensação de frio que não passa que a neblina absoluta provoca, fui examinar o porão, entrando pela passagem suja e empoeirada. O cheiro de mofo, ocre, antigo, de um lugar que não era limpo há anos e anos me atingiu em cheio, provocando espirros e lágrimas de irritação, sai do porão suja e sufocada para respirar. Quando me ajoelhei do lado de fora da pequena calçada lateral da casa para olhar e tentar observar algo do porão escuro e vazado abaixo de duas casas geminadas, vi nitidamente uma criança.
    Era uma menina sorridente em pé, dentro do porão e com um bonito vestido branco cheio de lacinhos. Ela fazia sinais com as mãozinhas me chamando para entrar novamente no porão, sorrindo o tempo todo.
    Amo crianças, tenho toda uma vida dedicada a trabalhos e projetos envolvendo seus direitos e sua proteção, o que imagino agora ter sido responsável pelo fato de eu não ter me assustado. A palavra que escolho para descrever o que senti é perplexidade. O frio que eu já sentia naquele dia fechado e típico do vilarejo se multiplicou e senti como se fosse um choque, uma entrada em cachoeira geladíssima ou mesmo um 220 volts. Fechei os olhos instantaneamente e por breves instantes, imagino, eu e a menina fomos para o meio de um imenso e belíssimo jardim de grama verde clarinha, amigas, de mãos dadas, rodando e sorrindo juntas, quentes com um sol do meio dia sobre nossas cabeças.
    Abri os olhos em transe, estava agarrada na abertura do porão com as duas mãos e sentindo somente dor nos joelhos por estar ajoelhada. Olhei em forma de espiadinha temerosa o vão no porão, nada mais vi lá dentro. Não sei quanto tempo exatamente durou esta experiência. Sei que senti a neblina, a tarde estava igual, mas percebi naquele momento de minha vida que nada mais seria igual a antes para mim.
    Regina do Atelier Cia. da Terra..

  16. 16 Slyeb 23 março, 2008 às 11:44 am

    i am gonna show this to my friend, dude

  17. 17 Andreia Tairon 19 junho, 2008 às 9:45 pm

    Olá. Meu nome é Andreia, tenho 25 anos e sou historiadora. No momento, além de lecionar a matéria de História para escolas estaduais, eu monto um projeto de mestrado que tem como tema a ” ideologia hippie” . O interessante foi que desde a primeira vez que estive na Vila de Paranapiacaba, eu me apaixonei pelo lugar, e depois, vim descobrir que o lugar já abrigou comunidades hippies, o que despertou ainda mais o meu interesse pelo local.
    Enfim, gostaria de saber um pouco mais sobre a Casa da memória, saber se neste local posso encontrar maiores informações sobre a vila e essas comunidades hippies que ai viveram. Gostaria que vocês me informassem sobre onde poderei pesquisar sobre o assunto, a fim de fazer um estudo aprofundado sobre a Vila, esse lugar misterioso e encantador que todas as pessoas deveriam ter o prazer de conhecer.
    Muito obrigada!

  18. 18 Regina Azevedo Miguel 16 novembro, 2008 às 3:44 am

    ODE à NATUREZA

    O Parque Natural Municipal Nascentes de Paranapiacaba é um dos mais belos redutos ecológicos do estado de São Paulo. Em seu meio biótico abriga espécies raras, em uma abundância de água, fauna e flora que nos obriga a um olhar mais reflexivo no sentido de planejar nosso futuro.
    Criado em 05 de junho de 2003, como uma Unidade de Conservação, possui mais de quatro quilômetros quadrados de mata atlântica e um importante número de nascentes para a grande metrópole que é São Paulo.
    Bebem nas águas do parque natural os Micro Leões de Cara Preta, aquele Tiê Sangue sedento, onças pintadas, os quatis e os tucanos. O Beija-flor-rubi marca um encontro com o Beija-flor-tesoura e com o Gavião Miudinho no último galho de um velho carobão para comentar sobre umas bromélias que andaram sumindo lá no canto leste da mata.
    Ah! Acordamos com este falatório das aves todos os dias!
    Os limites do Parque Natural de Paranapiacaba criam um tapete verde que envolve a vila histórica tombada para protegê-la, mais que cidadãos que obedecem ao imperativo da lei que proibe desmatar qualquer parcela daquelas matas e retirar espécimes da fauna e da flora existentes, nos tornamos seus protetores e amigos.
    Por morar aqui somos guardiões invisíveis deste poder quântico de equilíbrio em nosso parque, de seu ar e nossas crianças tem o privilégio de nadar e brincar em suas águas.
    A sensação de mata atlântica emendada de um parque que se liga territorialmente ao Parque Estadual da Serra do Mar deixa nossa Unidade de Conservação muito mais poderosa. Toda população brasileira poderá conhecer e estar neste cantinho de terra preservada. É um direito que será legado por nós às novas gerações. A mata atlântica, única no planeta, não pode morrer nem se extinguir completamente.Este é o nosso principal objetivo como guardiões.
    Alquimistas de saberes, colocaremos em nossa prática, como viventes do vilarejo encantado, as noções que pertecem aos guardiões de todos os tempos: um cuidador essencial. Cuidador da memória que se transforma e se apaga, cuidador da mata que é frágil e de suas águas simples, cuidador da educação dos mais jovens…um cuidador de si mesmo!.
    Atelier Cia. da Terra.

  19. 19 miriam muniz 26 maio, 2009 às 3:29 pm

    sou de santo andré, moro atualmente em são josé do rio preto sp ,conheci quando adolescente o doel sauerbronn , tenho algumas fotos de paranapiacaba , minha vó morou aía muitos anos, quando funcionava a estrada de ferro e se descia para santos, meu avo foi chefe da estação, passei muitas vezes aí quando era criança , indo de trem para santos , muito legal. Acho lindo o que estão fazendo para não deixar perder toda essa história . beijos a todos.


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